quarta-feira, setembro 06, 2006

Morte e descoberta espiritual

Há pouco tempo tive uma experiência que diz respeito a morte, meu pai tinha câncer e após 2 meses em estado vegetativo veio a falecer, algumas horas antes de morrer deu suas ultimas palavras, pediu para minha mãe tocar no seu peito e falou sussurrando “meu coração está parando”, e assim prosseguiu o seu fim, algo que seria inesquecível.

Ver a morte de perto de um ente tão querido me fez refletir intimamente o objetivo do homem nesse mundo, aquelas questões que fazemos ainda quando crianças, como “quem somos?” e “para onde vamos?”, e para isso nada melhor do que encontrar respostas em nossos antepassados, eles teriam algo sábio para dizer sobre a vida/morte. Minha esfera de entendimento do mundo sempre se absteve no campo político e social, eu nunca gostei das religiões comuns por partirem de princípios ignóbeis como a barganha e a ameaça, e como reguladoras do comportamento humano. Dessa forma senti um vazio no meu lado espiritual, principalmente por não ter encontrado crenças transcendentes que realmente fossem conceituais.

Minha compreensão do mundo não-material passou a se fortalecer ao assimilar o Zoroastrismo, uma crença étnica vinda do Irã com quase 4 mil anos de existência, totalmente diferente em seus conceitos. A seguir está um entendimento resumido da visão de Asha Zarathushtra:

Deus é uma descoberta interior e inerente ao todo da vida que é impossível desligar-se de Deus. Essa descoberta liberta o ser de qualquer obrigação ou temor. A segurança de se estar dentro de Deus muda o próprio conceito do que é Deus. Deus não é, então, um ser exterior a ser adorado, temido e agradado. Antes, Deus é para com todos os seres, não apenas os humanos, como o átomo para a matéria. A religião, portanto trabalha para fazer saber isso, ela é o "limpa pára-brisas" que nos clareia a visão de onde estamos e de quem somos.

Esse conhecimento, obviamente, resulta numa resposta. A alegria de saber-se em Deus e que Deus não é um terrorista fazendo chantagens eternas desobstrui todas as capacidades humanas de criar o bem, a beleza e a justiça. É claro que essa resposta, no caso, o lado humano da religião, é individual, enquanto construção interior de cada um e comunitária, enquanto as transformações sociais que ela acarreta. Isso é potencializado pelo desenvolvimento de uma Boa Mente, a elaboração de Boas Palavras e a produção de Boas Ações. Cria-se, a partir dessa resposta do ser humano a Deus e a si mesmo, o mundo ideal, tanto local como globalmente. Toda essa dinâmica do conhecimento e da ação independe de mandamentos e necessita ser livre de qualquer busca de recompensa e de medo de um suposto castigo. Aí temos Asha, que é o bem pelo bem, o que organiza o mundo com Ushta, alegria radiante. A escolha desse caminho tem que ser livre para de fato ser escolha. Ser livre, nesse caso, implica não estar sob o risco de perder algo ao optar pelo contrário do proposto por alguém. Mesmo porque, os que escolhem Asha o fazem para si e a favor do mundo todo, partilhando assim, os benefícios conseqüentes. Nesse sistema religioso o mal é apenas o não conhecimento do bem, o não saber que o bem é a única realidade. O mal não tem existência real, apenas circunstancial.

A vivência de Asha engloba o ser inteiro e também o seu contexto. Asha organiza a Mente, desperta o Coração, abre os Olhos e derrubas as barreiras. Embelezar a vida é a função de Asha. Tornar-se Ashavan não corresponde em nada à conversão. Ser Ashavan, não implica romper com outras religiões ou culturas. Pelo contrário, o Ashavan descobre-se mais dentro, parte e agente de todas as experiências humanas em suas contradições e paradoxos e isso de forma generosa e não discriminatória. Por isso mesmo, diferenças como de raça, gênero, sexo, orientação sexual ou crença são vistas como positivas e belas, nunca como razão para discriminação. Por fim, dentro desse espaço de liberdade cada um busca e descobre como melhor criar a sua espiritualidade. Asha organiza e catalisa o resultado disso, para o bem e o progresso do mundo.


Para um conhecimento mais profundo e tirar dúvidas, visitar o site da Comunidade Asha, a primeira comunidade Zoroastra do Brasil.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Crer, pode configurar-se como uma ação natural, tanto quanto comer ou dormir...Importante , de fato, é sabermos o que a crença em questão pode nos trazer, ou de que forma ela poderia contribuir em nossa evolução, que representa e engloba um processo contínuo, cíclico e, conseqüentemente, doloroso. A morte nos faz refletir quanto a nossa existencia, nossas funções e, é claro, de nossas inúmeras limitações. Ela representa de forma clara e objetiva a nossa maior certeza...

Uma boa sorte em seu caminho, e que essa descoberta contínua sirva para transformar e lapidar a jóia bruta da sua essência, sem que isso signifique negaçao de sua natureza, ou o temor daquilo que descansa no oculto esquecido. Mas acredito que essa sua escolha é adequada ( pelo que te conheço ) a sua forma de pensar o mundo e expressar o seu EU.

=*

11:52 PM  
Anonymous Anônimo said...

Religião pra mim não passa de um punhado de filosofias que levam um nome identificativo...

A melhor linha espiritual é a que vc cria.

O vazio é como um buraco, no caso buracos são incertezas de onde surgiu tudo, ou para onde vamos depois de morrer?

São buracos que ou você aceita que existem e aprende a lhe dar com eles, ou então vive na fantasia de acreditar em algo que preencha o buraco.

Encher o buraco ou sinalizar, caso contrário vc sempre cairá nele...

Encher o buraco é fantasiar para suprir a necessidade da certeza da curiosidade humana.

A fantasia-tapa buraco sempre te dará pontos de vida. Cada uma engloba suas próprias enfases caracteristicas, honestidade, questionamento, humanismo.

Mas pra contrariar pego o caminho vazio, onde quase ninguém pega, que ao invés de ser mais um a escolher uma filosofia espiritual, sigo minha própria natureza das filosofias de vida vividas!

Assim como alguém sentiu a necessidade em fazer a 4 mil anos atrás e obteve sucesso por se extender até hoje...

O é feito por nós é mais gostoso do que se adquirir pronto ;)

12:48 AM  
Anonymous Anônimo said...

Só fui ler teu texto hoje.

Realmente, tu ta escrevendo bem melhor, com mais coesão e clareza.

O Zoroastrismo que conheço é o de Nietzsche, somente. Mas uma busca espiritual é muito bem vinda, a qualquer hora.

O átomo é o que há de mais baixo em todas as coisas que existem no mundo. Somos apenas carcaças... o que corre dentro da gente e o que existe ao nosso redor é o que realmente importa.

Abraço.

7:27 AM  
Anonymous Anônimo said...

fico até sem palavras, mas que bom que tu encontrou essa crença e espero que com ela possa suprir esse vazio espiritual.
é duro passar por perdas como você passou... e ainda bem que aguentou firme e está vencedo.
torço pelo seu melhor =)

12:29 AM  

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